12 de junho de 2014

Infidelidade...

Convencionalismos sobre a felicidade conjugal, direitos sobre a liberdade sexual e outros conceitos pontuam e norteiam os fatores responsáveis pela boa convivência entre homens e mulheres unidos estavelmente. A verdade é que cada um é um e dentro de cada universo humano encontramos um manancial de desejos ocultos, obscurecidos por imposições sociais castradoras e divergentes do objeto de prazer e felicidade que cada um carrega em si. Este pode ser o gatilho que dispara a arma da infidelidade, que atira sem direção e, muitas vezes, acerta o próprio atirador.
A infidelidade, contrariando o que se pensa, não destrói somente a relação amorosa. É, antes de tudo, uma constatação de que a pessoa que mente e engana passa por algum conflito íntimo e pode estar precisando muito mais de auxílio psicológico que de uma aventura vazia e sem sentido. Enganar-se a si mesmo não é saudável. Buscar felicidade na fantasia de um novo amante pode aliviar sintomas de descontentamento, que, na maioria das vezes, é com o próprio ser mais do que com o cônjuge. Por exemplo, insegurança ou baixa autoestima perante o parceiro. Como a maior parte das soluções “fáceis” na vida, a infidelidade não resolve os verdadeiros problemas que causam essas tensões. Só eliminam os sintomas e não os males que o provocaram, que são singulares e que cabem a cada um e a cada casal.
Tem gente que não consegue se relacionar com a beleza ou com a inteligência da pessoa que escolheu para si. O que, no início, era ponto de admiração, virou ponto de humilhação. Há aqueles que não lidam bem com o parceiro bem sucedido, extrovertido e de bem com a vida. Tem outros que não têm paciência com os limitados racionalmente, emocionalmente ou financeiramente. Outros descobrem a feiura da pessoa que escolheu para viver tempos mais tarde e acham que merecem alguém mais belo. Há aqueles que se sentem bons demais, poderosos demais para conviver com aquele que não é tanto assim e, por isso, buscam alguém à altura ou que pelo menos os enalteçam, mesmo que por alguns trocados. Tem aqueles carentes demais, abandonados demais, amados demais.
Tem gente que não consegue corresponder à performance sexual do outro ou não vê nenhum interesse, no outro, de corresponder a sua. Para os homens, está bastando ser homem. Pode ser careca, barrigudo, pobre, grosseiro, sem cultura, baixinho, velho, impotente, casado, chato, bêbado, malandro... Sempre há mulher querendo. Para as mulheres, trair está um pouco mais difícil porque as estatísticas apontam um número muito alto de mulheres para cada homem em várias partes do planeta. Ainda assim, tem muita mulher dando um jeitinho de cair nessa armadilha. É de cada um, gente. E o que define se o recurso é a traição pode passar pelo viés da retidão. Ou será que não? Será somente a insustentável e tão permitida leveza do ser? A oportunidade faz o ladrão, já dizia meu avô. Nossa, como é difícil classificar o comportamento humano sob este aspecto, não é mesmo?

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Difícil para o traído, porque para o traidor tudo é justificável. Você me deixou sozinho, você engordou demais, você me cobra muito, você não me dá carinho, sua mãe é muito chata... Se envolver com uma pessoa décadas mais jovem ou mais velha, alguém muito dependente ou dominante, com problemas ainda maiores que os nossos, pode ser tão estimulante como tomar uma droga. Isso justificaria uma traição? Homens e mulheres infelizes no seu casamento podem ter uma relação fora que os ajude a "varar as noites". Esse tipo de "infidelidade salvadora" minimiza as tensões sobre um casamento tumultuado. As “puladas de cerca” permitem manter um relacionamento que, caso contrário, desmoronaria. Isso justifica?
Os infiéis, dedicam tempo e recursos, além de energia física e emocional, aos amantes, privando o seu cônjuge da oportunidade de lutar pelo relacionamento e condenando-o a um silêncio criminoso, que deixa dúvidas e incertezas, que isola e abandona, que conduz a uma vida plenamente insatisfeita. Quem trai silencia ou usa a defesa do ataque. O traído, por um longo tempo, acredita de verdade ser o responsável pelas mazelas da relação e pela insatisfação do traidor. Coitado. Quem já não ouviu falar dos homens que em casa são sempre tiranos, infelizes, sisudos, altamente moralistas e fora de qualquer suspeita. E as mulheres? Caladas, recatadas, conformadas com a sua sorte, umas santas. Quem vê cara não vê coração... Cão que ladra, não morde... Deixa pra lá. Podemos citar alguns tipos de infidelidade.
As que acontecem por uma necessidade preemente de romantismo, aquelas que acontecem por acaso, inesperadamente, e as recorrentes. A primeira, a romântica, está muito relacionada às mulheres que se queixam da falta de romantismo de seus maridos logo após os primeiros meses de casamento ou mais tarde, quando os dois já estão maduros e ele resolve que já é hora de envelhecer (para ela, é claro). Iludem-se pensando encontrar nos braços de um amante, que é somente outro homem, o romantismo, o ludismo e o colorido que lhes faltam em casa. A desilusão, nestes casos, é frequente e, em pouco tempo, seu amante, que só queria sexo, a tratará ainda com menos respeito que o homem de casa, oferecendo exatamente o tratamento pertinente ao papel a que se dispôs. Entretanto, muitos homens, aqueles de alma feminina que fogem à regra, precisam de um carvãozinho a mais para incandescer, os mais sensíveis e ligados a detalhes na relação iludem-se com muita facilidade também. Estão sempre carentes e quando traem já estão dispostos inclusive a uma vida nova.
Pensam em amor e falam de amor com suas amantes e são capazes de traçar planos de vida. Covardes, são capazes de manter duas mulheres até serem descobertos. Para as mulheres mais ardilosas e mal intencionadas, este é uma presa fácil para assédio. Os romanticões tendem a encontrar nestas mulheres, que sabem exatamente quais “armas” usar para a conquista, um apoio exatamente do tamanho da carência deles. São alvos de tiro certeiro para mulheres sem escrúpulos que não medem esforços em dissipar famílias (que na maioria das vezes estão somente fragilizadas por uma crise temporal) e fisgar para elas um porto seguro. São as mulheres oportunistas, as parasitas que veem nestes homens “ingênuos”, digamos assim, a tábua da salvação. Gente, duas famílias para sustentar não deve ser fácil, não?
A meu ver, a infidelidade romântica é a mais nociva, a que pode causar maior devastação. Trabalhar a relação, analisar os motivos da crise conjugal, medir o sentimento, pensar bem do outro, perdoar, partir para a reconquista, apontar os pontos falhos e pedir providências e mudanças, tudo isso pode ser um pouquinho trabalhoso, porém, com certeza, pode trazer resultados muito bons para continuar o casamento com alguém que já conhecemos e que, no fundo, até amamos. Libertar a pessoa que não amamos mais seria uma ótima opção também, no mínimo, a mais honesta. Todo mundo tem direito à felicidade. Uma aventura ou uma investida em um novo relacionamento pode custar muito caro. Ser feliz dá trabalho, pessoal. Pessoas que se envolvem em infidelidade romântica são aquelas que não encaram a realidade e não buscam compreendê-la melhor.
Casos românticos levam a muitos divórcios, mas não a muitos casamentos felizes. Os relacionamentos ocasionais, ou acidentais, constituem a maioria das primeiras traições. Podem acontecer no barzinho com os amigos, no ambiente de trabalho (aliás, há alguns muito propícios), na praia ou em viagens de negócios. Podem acontecer em meio a uma crise conjugal leve ou pesada, ou mesmo com o casal vivendo bem. Alguém, cuja retidão de caráter não for tão retinha assim, poderá sucumbir a um docinho a mais na festinha da vida. Estas pessoas podem ter conflitos em seus casamentos, como em todos os casamentos. E, muitas vezes, são conflitos que nem sugerem a uma separação. O parceiro que trai ocasionalmente não espera continuar a trair e muito menos se apaixonar.
Apaixonar-se seria a maior das loucuras, a maior das idiotices, a forma mais maluca de infidelidade. Dizem que para os homens estas escapadelas fortalecem tudo ao seu redor e que para as mulheres é uma “piração”. Será mesmo? Olha que os tempos são outros. O que pode assegurar que o casamento não é bom para um e bom para o outro? Todo mundo precisa de um arzinho de vez em quando. O que as pessoas esquecem é que este arzinho poderia ser encontrado em alternativas para o casal. Mas por que os casais não investem neles próprios como investem em alguém estranho? Esse alguém pode estar muito longe em aspectos positivos, muito aquém do que temos em casa. Que graça tem ficar dando com a cara no chão a certa altura da vida? A infidelidade recorrente, onde a pessoa pula de galho em galho, e que socialmente significa uma atividade basicamente masculina, engloba aqueles interessados em afirmar sua masculinidade a partir do sexo com qualquer mulher.
Para o conquistador, ser casado não o inibe à traição. Muitos homens só se sentem felizes colecionando conquistas. Normalmente são envolventes, encantadores, mas nunca estabelecem um relacionamento muito pessoal. Nem cogitam os sentimentos. Muitos homens fingem estar sempre em busca de alguém melhor que a esposa, porém, de verdade, não querem encontrar ninguém, porque não pensam em se divorciar e se deparar com todos os problemas que uma separação requer, incluindo despesas e burocracia. Este tipo de traição já é também muito comum entre as mulheres de hoje em dia, que estão muito bem resolvidas com a sua sexualidade e necessitam, muitas vezes, colocá-la à prova, fora de casa, tendo em vista a pouca disposição de seus parceiros para o sexo de qualidade com ela. Existe, contudo, uma coisa em comum entre os homens que traem: a interminável capacidade de fazer suas mulheres infelizes.
Entre as mulheres, talvez a pouca inteligência. É alarmante o impacto emocional que a infidelidade conjugal tem sobre a vida das pessoas. Após a descoberta, o cônjuge fiel pode sobreviver ao pesadelo, mas o machucado não vai sarar tão facilmente e as feridas causadas ao casamento podem não ser completamente cicatrizadas. Em contrapartida, e em uma visão mais positiva, descobrir que foi traído é também descobrir quem é de verdade a pessoa com quem se vive, do que ela é capaz. Se o fato for perdoado, daí pra frente pode ficar até melhor a convivência, porque ela é opcional. Ainda pior que os males emocionais, são algumas consequências bem mais devastadoras, tais como as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s) e a gravidez. Bom, meus amigos, este é um assunto interminável e que “dá pano pra manga”, mas temos um limite aqui. Em outra oportunidade escreveremos mais a este respeito e quem quiser, pode sugerir outras abordagens.

Jussara Hadadd é filósofa e terapeuta sexual feminina


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