22 de abril de 2014

Velhice e Solidão

" A velhice não é outra coisa senão um pacto nosso com a solidão".
Sábias palavras de quem viveu o suficiente para descobrir esta grande verdade. Todavia, esta solidão não significa necessariamente estar-se sozinho, isolado. Não... Podemos estar em meio a muitas pessoas. Só que, quanto mais jovens elas forem, menos identificadas estarão com os valores, com as maneiras de sentir, de pensar e de agir do idoso, da idosa. Portanto, cria-se um distanciamento recíproco que, de modo geral, não possibilita o diálogo, o verdadeiro diálogo propiciador do encontro entre duas consciências, a cumplicidade e o entendimento. 
No meu caso, esta solidão chega a ser enriquecedora, na medida em que posso ler mais, escrever, ter muito tempo para meu lazer, para meu ócio iluminado, para apreciar o belo pôr do sol sob o rio que banha a minha cidade, ver bons filmes na TV e fruir o silêncio do meu apartamento. Como é bom o silêncio! Como é agradável viver sozinha sem ninguém reclamando, discutindo, gritando, brigando ou cobrando minha atenção... É uma paz! Este tipo de solidão é um privilégio.


12 de abril de 2014

Um eufemismo abominável



Sou uma mulher com mais de sessenta anos de idade, de bem com as rugas, com os cabelos brancos e com as limitações físicas naturais nos sexagenários. Sou, portanto uma pessoa da terceira idade, ou melhor dizendo, uma pessoa “velha”. Sim... A palavra certa é esta: “velha”, como foram a minha mãe e minha avó, com muita dignidade e elegância, sem problematizarem os efeitos da passagem dos anos, sem lançarem mão de eufemismos idiotas para disfarçarem a indisfarçável velhice, como a abominavelmente hipócrita expressão “melhor idade” para nomearem o grupo etário no qual se integravam. Na época delas, este tipo de eufemismo ridículo não existia, da mesma forma que não haviam ainda criado outros igualmente cretinos como “deficiente visual” (cego), “afrodescendente” (negro), “funcionária do lar” (empregada doméstica), e centenas de outros, dentre os quais figura o deletério “melhor idade”. Execro essa abominável expressão, decerto criada por um jovem destituído da mínima noção da realidade dos velhos, sem nenhum resquício de sensibilidade para perceber as imensas e crescentes perdas e limitações que causam dor, frustrações, sofrimento, tristezas e solidão nos idosos.
Como pode alguém julgar a melhor idade de um ser humano justamente a faixa etária na qual chegam as dolorosas doenças reumáticas dificultando a locomoção, as falhas da memória causam vexames, a visão, a audição, o olfato e o paladar sofrem alterações, a liberdade de sair sozinha/o começa a ser controlada pelos zelosos familiares, Alzheimer, mal de Parkinson, AVCs, diabetes, pressão alta e colesterol alto são ameaças à qualidade de vida...
Portanto, para mim, a expressão “melhor idade”, além de ser uma lastimável e desrespeitosa ironia, é um deboche abominável! A infeliz expressão “Melhor Idade” não passa de uma execrável hipocrisia de gente piegas, chegada a uma frescurite que, no fundo tem preconceito contra a antiga, consagrada e adequada expressão “velha” e “velho”, tem preconceito contra a “velhice” e, por isso, tenta adoçar com eufemismos cretinos o que sabem ser a mais difícil fase da vida. 
A melhor idade é a infância! Tempo da inocência, das fantasias, das ilusões e da crença em um mundo mágico e perfeito!