26 de maio de 2013

Sou uma pessoa velha, uma pessoa da terceira idade...







Sou uma mulher com mais de sessenta anos de idade, de bem com as rugas, com os cabelos brancos, com as limitações físicas naturais nos sexagenários e com muito gosto pela vida. Sou, portanto uma pessoa da terceira idade, ou melhor dizendo, uma pessoa “velha”. Sim... A palavra certa é esta: “velha”, como foram a minha mãe e minha avó, com muita dignidade e elegância, sem problematizarem os efeitos da passagem dos anos, sem lançarem mão de eufemismos idiotas para disfarçarem a indisfarçável velhice, como a abominavelmente hipócrita expressão “melhor idade” para nomearem o grupo etário no qual se integravam. Na época delas, este tipo de eufemismo ridículo não existia, da mesma forma que não haviam ainda criado outros igualmente cretinos como “deficiente visual” (cego), “afrodescendente” (negro), “funcionária do lar” (empregada doméstica), e centenas de outros, dentre os quais figura o deletério “melhor idade”. Execro essa abominável expressão, decerto criada por um jovem destituído da mínima noção da realidade dos velhos, sem nenhum resquício de sensibilidade para perceber as imensas e crescentes perdas e limitações que causam dor, frustrações, sofrimento, tristezas e solidão nos idosos.


Como pode alguém julgar a melhor idade de um ser humano justamente a faixa etária na qual chegam as dolorosas doenças reumáticas dificultando a locomoção, as falhas da memória causando vexames, a visão, a audição, o olfato e o paladar sofrem alterações, a liberdade de sair sozinha/o começa a ser controlada pelos zelosos familiares, Alzheimer, mal de Parkinson, AVCs, diabetes, pressão e colesterol altos são ameaças à qualidade de vida...


Portanto, para mim, a expressão “melhor idade”, além de ser uma lastimável e desrespeitosa ironia, é um deboche abominável! A infeliz expressão “Melhor Idade” não passa de uma execrável hipocrisia de gente piegas, chegada a uma frescurite que, no fundo, tem preconceito contra a antiga, consagrada e adequada expressão “velha” e “velho”, tem preconceito contra a “velhice” e, por isso, tenta adoçar com eufemismos cretinos o que sabem ser a mais difícil fase da vida, especialmente para os que ultrapassam a barreira dos 80 anos de idade.





A MELHOR IDADE, para mim, foi a fase da minha infância, até os 10 anos. Tempo das doces ilusões, da inocência, da crença na bondade dos homens e do mundo, o alheamento de problemas e a certeza de que a vida é mágica, as fadas existem, Papai Noel é um bom e generoso velhinho, a maldade só existe nas histórias de bruxas... E por aí seguem as delícias da infância, da melhor das idades.








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